A mobilização em defesa de uma Constituinte Popular para Reforma
do Sistema Político terminou na noite de ontem terça-feira (12), no centro de São Paulo com mais
de duas mil pessoas nas ruas, mas já assume o desafio de ocupar o país
até setembro, quando começa o plebiscito.
Dia Internacional da Juventude, os movimentos
que constroem a campanha estiveram diante do Teatro Municipal para
popularizar a luta e tratar da importância de a população comparecer às
urnas que serão espalhadas por todo o Brasil para dizer “sim” à uma
única pergunta: “você é a favor da convocação de uma constituinte
exclusiva e soberana sobre o sistema político?”
“A coleta dos votos parece difícil, mas basta perguntar às pessoas se
estão satisfeitas com o atual sistema político. A resposta, em geral, é
não, porque esses políticos não nos representam, afinal, via de regra,
quem garante a eleição é o poder econômico, as grandes empresas que
financiam as campanhas e fazem com que o político tenha o rabo preso com
quem investiu”, criticou o diretor Executivo da CUT, Júlio Turra.
A partir da mobilização de hoje, relatou o dirigente, o comitê
nacional da campanha terá como prioridade organizar a votação nas
entidades que compõem o Plebiscito.
Eleições e mídia
Secretário de Políticas Sociais da CUT São Paulo, João Batista Gomes,
ressaltou que os movimentos social e sindical estarão atentos à pauta
dos candidatos “A Constituinte é a nossa bandeira e só terão apoio os
que incluírem em suas propostas a mudança do sistema político”.
Em relação à ausência do debate sobre o tema nos grandes meios de
comunicação, a secretária de Imprensa da CUT São Paulo, Adriana
Magalhães, apontou que a tática da velha mídia é despolitizar a
sociedade, especialmente em período eleitoral. “Acreditamos que uma
reforma do sistema político não atende aos interesses dos grandes meios
de comunicação e isso explica porque não vemos notícias adequadas sobre
este tema e outros como greves, luta pela moradia ou por reforma
agrária”, disse a dirigente.
Mulheres no poder
O financiamento apontado por Júlio Turra como um ponto essencial de
debates na Constituinte foi citado em muitas outras intervenções, mas
não foi o único tema. A subrepresentação de grupos que são maiorias da
população brasileira também foram citados.
Também da Marcha, Sônia Coelho acrescentou que a entidade promoverá
ainda neste mês debates em centros de atendimento a mulheres vítimas de
violência para organizar urnas de coleta de votos entre os dias 1º e 7
de setembro. Como citou Maria Júlia, o enfrentamento à repressão
machista passa por uma nova configuração da política brasileira.
“Queremos mais mulheres no poder, mas que também estejam
identificadas com a causa das trabalhadoras e das feministas”, explicou
Sônia.
Na visão do representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), Raul Amorim, a luta pela ampliação da democracia brasileira
e contra a subrepresentação nos espaços de poder vai além dos
interesses de cada setor. “A bandeira da Constituinte está ligada à
soberania nacional e à concretização da reforma agrária. Temos que dar
um basta ao modelo atual em que o capital estrangeiro se sente livre
para comprar nossas terras e atuar na especulação imobiliária”, disse.
Ocupar cadeiras
A militante do Levante Popular da Juventude, Laryssa Sampaio,
ressaltou que a pouca representação de jovens na Câmara e no Senado
dificulta para avançar em temas cruciais ao movimento. “Os projetos de
lei que existem vinculados à juventude, como os da educação, tramitam
com lentidão, sofrem restrições ou não são aprovados”, explica.
Para Laryssa, o plebiscito é que irá destravar essas e outras
questões. “Lutamos por bandeiras como a desmilitarização da polícia,
porque sabemos que quem está morrendo são jovens negros da periferia”,
completa.
O dirigente Júlio César Silva Santos, coordenador do Coletivo de
Combate ao Racismo do Sindicato dos Bancários e Financiários de São
Paulo, lembrou que negros e indígenas também são minorias entre os
parlamentares e enfrentam resistência semelhante. “A regularização das
terras remanescentes quilombolas e a demarcação de terras indígenas só
irão avançar se o Congresso mudar, porque é o agronegócio quem ocupa as
cadeiras de decisão na política.”.
Povo nas ruas
O deputado federal Renato Simões (PT-SP) destacou a visibilidade que a
mobilização deu ao tema, com a organização de 800 comitês em todo o
país e a formação de milhares de lideranças para tocar o processo de
votação pelas regiões.
Para ele, há um processo de construção de consciência sobre a
necessidade de desatar nós que impedem as reformas estruturais como a
agrária, urbana, tributária e a democratização dos meios de comunicação.
“A reforma política é para responder ao ‘não me representa’ que as
ruas trouxeram para o debate político em junho do ano passado. E, a
partir de agora, não vamos mais sair das ruas. Como em 2002, quando
derrotamos a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), vamos derrotar o
Congresso e fazer nossa Constituinte com o Plebiscito Popular”,
afirmou.
Para Misa Boito, dirigente do PT de São Paulo e candidata à Câmara
Federal, a Constituinte deve tratar ainda de regras que fortaleçam os
partidos e não os indivíduos. Em período eleitoral, ela defende também
que os eleitores cobrem dos candidatos que transformem seus comitês em
espaços para a coleta de votos. “A partir de agora será um mês de povo
nas ruas.”
Constituinte já
No final da tarde, após deixar o Teatro Municipal, a marcha do
Plebiscito pela Reforma do Sistema Político seguiu até a Câmara dos
Vereadores, onde uma faixa vertical com os dizeres “Plebiscito Já” tomou
a fachada.
Diante da Casa, o advogado Benedito Barbosa, o Dito, ligado aos
movimentos de luta pela moradia, que sentiu na pele a criminalização aos
movimentos sociais ao ser agredido e preso durante reintegração de
posse em junho deste ano, falou sobre como a reforma política pode
alterar esse cenário de violência.
“Sem mudarmos o sistema político, o que fazemos é atuar nos efeitos e
não na causa. É fundamental que possamos fazer a reforma política no
país para ampliar a desconcentração da terra e diminuir os conflitos
sociais e fundiários, que representam a ponta do iceberg dos choques
sociais. Assim, diminuiremos a criminalização dos movimentos sociais e o
recrudescimento contra a pobreza”, avaliou.
Para a militante da Consulta Popular, Olívia Carolino, que durante a
atividade carregava nos braços a filha pequena, a luta por uma
Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político no Brasil não se
encerrará com a votação de 1º a 7 de setembro. “É uma bandeira
importante de mudanças estruturais que cresce a cada dia e que não
termina agora e nem no próximo mês”, alerta.
Ag. CUT -
Escrito por: Luiz Carvalho e Vanessa Ramos
Fotos – Dorival Else e Mídia Ninja
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