
O movimento sindical, em geral, e as centrais sindicais, em
particular, tem feito um bom trabalho com os poderes Judiciário e
Legislativo no combate a essa ameaça aos trabalhadores, mas precisa
intensificar a pressão também sobre o Poder Executivo, que contrata
terceirizados e será decisivo na regulamentação da matéria.
Em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) a atuação das centrais,
apoiado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), tem sido eficaz no
sentido de inverter a tendência quanto ao Agravo de Recurso da Celulose
Nipo Brasileira S/A (Cenibra), que pretende a extensão da terceirização
às atividades fins das empresas.
A manifestação do MPT contra a tentativa de instituir repercussão
geral da ação e contra a possibilidade de extensão da terceirização às
atividades fins das empresas, combinado com o trabalho das centrais, que
têm visitado os ministros e ingressado com ações de amicus curiae no
processo sob exame da Corte Constitucional, tem surtido efeitos
positivos no trabalho de persuasão dos magistrados.
O trabalho das entidades sindicais no Congresso Nacional, que será
retomado em fevereiro, a julgar pelas ações unitárias havidas em 2014,
tende a ser intenso e poderá ser fundamental para barrar a investida
patronal sobre os direitos dos trabalhadores em geral e sobre a
regulamentação em bases precarizantes da terceirização, em particular.
É preciso reiterar que o setor empresarial — que contará no Congresso
com uma bancada forte, unida e com pauta clara — tende a priorizar a
votação do projeto de terceirização. E o governo não dispõe de margem
orçamentária para promover desonerações ou conceder incentivos fiscais,
monetários ou creditícios, como fez em 2013 e 2014.
Pelo contrário, a tendência é de aumento de impostos e isso fará com
que o setor patronal, para manter as margens de lucro, invista contra os
direitos trabalhistas.
É nesse contexto que entra o Poder Executivo, cujo papel nesse tema
será determinante, tanto pelo exemplo, quanto na forma de se colocar no
debate sobre a regulamentação da terceirização.
No primeiro caso, as perspectivas não são muito boas. As declarações
do novo ministro da Fazenda defendendo o projeto de terceirização e a
iniciativa do Ministério do Planejamento, que elaborou decreto, já sob
exame da Casa Civil, ampliando o escopo da terceirização no serviço
público, inclusive em setores estratégicos, é muito preocupante.
A MP 664/14, que terceiriza a perícia média, entre outras maldades, foi um claro sinal nessa direção.
No segundo aspecto, sobre a regulamentação da terceirização,
espera-se uma postura do governo Dilma em sintonia com a que foi pregada
na campanha eleitoral, quando se criticou Marina Silva por defender a
terceirização em seu programa de governo.
O governo deve ser claro no sentido de qualquer proposta que venha
tratar da matéria, além de não alcançar as atividades fins das empresas,
deve garantir aos trabalhadores terceirizados os mesmos direitos dos
empregados da empresa contratante, sem flexibilização, redução ou
precarização de direitos. E isso significar não ao PL 4.330/04!
Por tudo isso, é fundamental e urgente que o movimento sindical, os
advogados trabalhistas e as lideranças dos partidos políticos
identificados com os trabalhadores façam chegar à presidente da
República que não aceitarão, em hipótese alguma, que a promessa na
campanha de não reduzir ou suprimir direitos seja descumprida, sob pena
de graves manifestações e greve geral. Do contrário, prevalecerá a
posição da equipe econômica.
Agência DIAP - Antônio Augusto de Queiroz*
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap
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